quinta-feira, 5 de julho de 2007

Teorida do Eterno Retorno

Eterno retorno é um conceito filosófico formulado por Friedrich Nietzsche. Em alemão o termo é Ewige Wiederkunft. Uma síntese dessa teoria é encontrada em Gaia Ciência:

"E se um dia ou uma noite um demônio se esgueirasse em tua mais solitária solidão e te dissesse: "Esta vida, assim como tu vives agora e como a viveste, terás de vivê-la ainda uma vez e ainda inúmeras vezes: e não haverá nela nada de novo, cada dor e cada prazer e cada pensamento e suspiro e tudo o que há de indivisivelmente pequeno e de grande em tua vida há de te retornar, e tudo na mesma ordem e sequência - e do mesmo modo esta aranha e este luar entre as árvores, e do mesmo modo este instante e eu próprio. A eterna ampulheta da existência será sempre virada outra vez - e tu com ela, poeirinha da poeira!". Não te lançarias ao chão e rangerias os dentes e amaldiçoarias o demônio que te falasses assim? Ou viveste alguma vez um instante descomunal, em que lhe responderías: "Tu és um deus e nunca ouvi nada mais divino!" Se esse pensamento adquirisse poder sobre ti, assim como tu és, ele te transformaria e talvez te triturasse: a pergunta diante de tudo e de cada coisa: "Quero isto ainda uma vez e inúmeras vezes?" pesaria como o mais pesado dos pesos sobre o teu agir! Ou, então, como terias de ficar de bem contigo e mesmo com a vida, para não desejar nada mais do que essa última, eterna confirmação e chancela?"

A teoria do Eterno Retorno traz um peso enorme a cada uma das escolhas do ser humano, das mais banais até as mais complexas. Abençoando ou amaldiçoando o demônio, a teoria pode levar as pessoas a loucura, pois cada mínima dor e prazer se repetiria por toda eternidade.

O Eterno Retorno também diz respeito aos ciclos repetitivos da vida, estamos sempre presos a um numero limitado de fatos, fatos estes que se repetiram no passado, ocorrem no presente, e se repetirão no futuro, como por exemplo, guerras, epidemias, etc.

O que é indispensável notar é que esta teoria, que parece insensata e totalmente inverossímil a muitos, não é uma forma de percepção do tempo: o Eterno Retorno não é um ciclo temporal que se repete indefinidamente ao longo da eternidade.

Quando no texto, acima transcrito, de A Gaia Ciência, o filósofo sugere a aparição do demônio portador da reveleção do ciclo inexorável de repetições, ele não afirmou que aquilo seria exatamente o Eterno Retorno.(Temos que ter em mente o estilo artístico e um tanto quanto sibilino do autor - que se atreveu a usar poemas para difundir sua filosofia). Nos textos de Nietzsche sobre a História, vemos que sua noção do Tempo não é cíclica. Mas, então, o que quer dizer este tal Eterno Retorno? - Ele Fala da ordem das coisas.Ele nos mostra como o Mundo não é feito de pólos opostos e inconciliáveis, mas de faces complementares de uma mesma - múltipla, mas única - realidade. Logo, bem e mal, angústia e prazer,são instâncias complementares da realidadade - instâncias que se alternam eternamente. Como a realidade não tem objetivo, ou finalidade( pois se tivesse já a teria alcançado), a alternância nunca finda. Assim, vemos sempre os mesmos fatos retornarem indefinidamente. Outras observaçôes importantes a respeito do Eterno Retorno são suas relações com o Amor Fati e a vontade de potência. Detenhamo-nos ligeiramente no Amor fati - Amor ao destino.

A pergunta que o conceito do Eterno Retorno nos faz é:amamos ou não amamos a vida?Se tudo retorna - o prazer, a dor, a angústia, a guerra, a paz, a grandeza, a pequenez - se tudo torna, isto é um dom divino ou uma maldição? Amamos a vida a tal ponto de a querermos, mesmo que tivéssemos que vivê-la infinitas vezes sem fim? Sofrendo e gozando da mesma forma e com a mesma intensidade?Seríamos capazes de amarmos a vida que temos - a única vida que temos - a ponto de querermos vivê-la tal e qual ela é, sem a menor alteração, infinitas vezes ao longo da eternidade? Temos tal amor ao nosso destino? - Eis a grande indagação que é o Eterno retorno.

Ele é, portanto, a maior indagação da filosofia: aquele que quer respondê-la deve posicionar-se além de bem e mal - enxergar a vida como o todo único e múltiplo que ela é: e e amá-la.